Começar a acabar
Neste domingo passado fiz a minha última viagem de comboio para Coimbra com a certeza de que quando chegar vou encontrar um espaço só meu, pelo qual religiosamente (ou então não) pago. Não me custa muito pensar nisso. Não vejo as coisas como fins. São inevitavelmente as últimas, mas não representam um fim. Custa-me sim ouvir as palavras dos outros. As palavras de que tudo vai acabar. Já chega. Já sei que me vou embora. Já sei que vou deixar mais uma casa. Já sei que está tudo prestes a acabar. Mas já chega de me lembrar. Deixem-me viver sem o medo de ter um futuro sem as coisas que me fazem feliz. Deixem-me ser feliz por as estar a viver. Não me obriguem a viver as coisas como se fosse a última vez. Vou vivê-las como se fosse a primeira. A primeira de muitas diferentes. Vai tudo mudar, mas não vai acabar. Eu não vou deixar de viver, e não vou deixar de ser aquilo que sou, e não é deste fim que depende a continuação, é de mim, e é por isso que sinto saudade, é por isso que fico triste, mas também é por isso que tenho esperança de que não vou ficar por aí, e que alguma coisa do que aí vem há-de ser bom.
Não posso pensar de outra forma. Pensar de outra forma seria, aí sim, o fim.