domingo, abril 29, 2007

O Cubinho de Gelo e as Fábulas da Floresta Encantada

Era uma vez um Cubinho de Gelo gelado com vontade de passear. Entrou na Floresta Encantada e uma miúda foi encontrar:

- "Porque choras Miúda?"

- "Tenho frio Cubinho de Gelo, não me podes ajudar?"

- "És parva Miúda? Então não vês que eu sou um Cubo de Gelo?"

- "Mas estás na Floresta Encantada, tudo é possível!"

- "Então se tudo é possível porque é que ainda estás com frio?"

Would you like to know more?

O desafio de continuar a crescer é ir aprendendo a aprender com os erros e não a deixar de errar. A burrice é estrategicamente definida de acordo com o número de vezes que somos "encurralados" a cometer os mesmo erros, sucessivamente. A aprendizagem é, por suposto, um processo complicado que implica não apenas identificar o erro como, igualmente, a estratégia adequada para a sua correcção eficaz. A erradicação do erro é fisicamente impossível se pensarmos que ele, inadvertidamente, acontece sempre que pensamos "da última vez correu mal, agora vai ter de ser diferente". Isto porque o dito pensamento implica que uma acção já se encontre a decorrer. Iniciamos o processo erróneo mas a ponderação atempada coloca-nos no caminho certo. A erradicação implicaria que o processo não foi iniciado.
Sendo assim, a criatividade envolvida no exercício da resolução do mesmo problema de diferentes formas poder-se-á dizer gigantesca. Enquanto que um simples "não" não inicia a engrenagem que se processa no sentido contrário aos ponteiros do relógio e que, eventualmente, parará com a resposta "ups... fiz merda".

A minha conclusão: metade do nosso tempo é passado na correcção de problemas, ao contrário do investimento em actividades sãs e, de certa forma, coerentes. Este tempo compreende uma intensa actividade cerebral e consequente aumento das ligações neuronais do nosso cérebro. Sendo assim, aprende-se mais a fazer merda do que a acertar à primeira.

domingo, abril 22, 2007

O sabor da fúria

Há alturas na vida em que simplesmente se tem acessos de fúria. Vários acessos de fúria ao mesmo tempo. Acessos de fúria incontroláveis. Não daquele género em que é alta a probabilidade de andarmos à porrada, mas antes daqueles acessos de fúria ou estupidez, em que é provável responder da pior maneira possível a tudo quanto é idiotice ou parvoeira que nos digam ou façam. É pensar antes de falar, é esperar antes de responder, é apagar a mensagem antes de a enviar, é isso que não se faz. E sabe tão bem.

domingo, abril 01, 2007

Queres conhecer o meu quarto?

É feio e sujo. As paredes estão manchadas pelos dias que lá passo dentro. A janela não abre para o exterior. Deixa a luz entrar mas não deixa o mofo sair. A um canto empilhei as lembranças e as coisas que não posso espalhar pela divisão porque não tenho espaço. Debaixo do parapeito da janela tenho uma secretária. As gavetas têm pertences que não me pertencem, e os parafusos espalhados não são de nenhum buraco. Está comida pelos bixos e eu não a limpo porque no fundo não a quero lá. Mas dá-me jeito, espalho as minhas coisas no tampo. A cadeira que lá está encostada tem sempre casacos, chapéus de chuva e um boné. O saco do lixo também lá está pendurado. A televisão está sobre uma mesa tosca sem toalha para lhe cobrir a fealdade da construção. O armário, a mesinha de cabeceira e a cama têm riscos de uma existência que não é minha e têm todos cores diferentes. O chão tem pó e debaixo da cama deve existir cotão, mas não sei, não gosto de lá espreitar. A mesinha de cabeceira tem quinquilharia a mais e dois livros nos quais ainda não peguei. O chão tem calçado por todo o lado e um tapete branco, com algumas riscas amarelas e pretas. Há um banco sofá ao lado da mesinha. A roupa acumula-se lá durante a semana. As portas abertas do armário têm sempre toalhas penduradas e o chão está sempre cheio de fios, extensões e um termoventilador que ligo mesmo quando está calor. É assim o meu quarto. Ah, e as manchas. Já te tinha dito que tenho manchas na parede?

Confissões de pés lavados

Depois de muito discutir a filosofia da batata, chega-se à conclusão que pouco ou nada muda na vida. Independentemente de se acreditar ou não num ser ou numa força superior, pensar a existência é das frustrações que raramente me dou ao prazer de ter. O que é que faz sentido? Dizem que os horizontes se afinam, que as pedras da calçada se distanciam dos pés, que qualquer coisa se completa e que há perguntas que se deixam de fazer quando estamos apaixonados. Eu não vejo o horizonte, as pedras da calçada aleijam-me os pés e sinto-me repartida em pedaços pelas pessoas e lugares que fazem parte do meu mundo. Não me conheço tão bem como os outros me veêm, e vejo melhor os outros que aquilo que prefiro esconder de mim. Não consigo afastar as pessoas que não interessam e só me aproximo quando tenho a certeza que vou ser rejeitada. Sou disfuncional. Não vejo o mundo cor-de-rosa, nem o vejo a preto a branco. Na maioria dos dias, acordo de manhã e nem sequer o consigo ver. Prefiro pensar que as pequenas metas que vou traçando vão colorindo o quadro daquilo que seria uma vida preenchida. Mas há sempre qualquer coisa que fica para trás. Há sempre aquilo que todas as manhãs me passa pela cabeça e que eu prefiro manter anónimo, que não consigo confessar a mais ninguém, que me calcifica as articulações e corrói a alma. Até ter a certeza que não tenho nada a perder, prefiro continuar calada e fingir que não falo porque no fundo não é verdade.

Básica

O que eu queria era não ter de me levantar amanhã às 08...