domingo, janeiro 28, 2007

Simetrias

Os reflexos dos espelhos são sempre diferentes. Estamos a falar da mesma constante entidade, mas que nos devolve sempre imagens diferentes daquilo que achamos ser o nosso aspecto e o nosso estado.

Há pessoas que evitam esses reflexos estranhos e obscuros. Outras procuram-nos na tentativa de verem reflectida a imagem da segurança pessoal que querem criar perante os outros. A maioria olha para o espelho de manhã, para ter a certeza que não sai para a rua com um qualquer macaco no nariz, e evita a "reflexão" durante o resto dia para ter a certeza que não é confrontada com a precariedade de uma imagem que se vai degradando durante o percorrer do dia para atingir um pico de instabilidade quando chega a altura de ir dormir. Pelo menos é assim que eu me sinto. Não gosto de pensar que sou a única neste exercício de auto-destruição lenta e dolorosa de chegar ao final do dia e pensar, enquanto vejo a minha imagem reflectida no único objecto que me devolve aquilo que eu sou: "Afinal foi 'isto' com que me andei a pavonear durante o dia."

E depois dizem que o tabaco mata. Eu conheço formas mais dolorosas de morrer.

sábado, janeiro 27, 2007

Impecável

Numa atitude contrária de auto-preservação, a maioria das pessoas luta para estar sozinha. Há amizades que não queremos estragar, desilusões que não queremos ter (nem dar) e consequências que não estamos dispostos a encarar. São raras as ocasiões em que conseguimos tomar decisões, comportar de acordo com essas decisões e, no final, achar que fizemos a escolha certa. O cutelo da dúvida paira nas nossas cabeças quando escolhemos e quando não escolhemos. Portanto, na melhor das hipóteses, o que é que adianta pensar muito sobre o que pensar, o que dizer ou o que fazer, porque, no final, vai concerteza dar merda.

domingo, janeiro 14, 2007

A doença da insegurança

Porque é que não confiamos em nós próprios o suficiente para confiarmos nas outras pessoas?

Na verdade, quase ninguém, se é que alguém, verdadeiramente "põe as mãos no fogo" por outra pessoa. Mesmo que em voz alta professarmos o valor da nossa confiança em quem mais, supostamente, nos conhece, fazêmo-lo com um saquinho de segurança no coração. Há sempre a hipótese de sairmos magoados. Isto é doentio. Primeiro porque o futuro é imprevisível, e não podemos exigir dos outros aquilo que nós próprios não conseguimos oferecer: a estabilidade e a certeza de se saber que existem certas e determinadas coisas que nunca se farão.

Isto não quer dizer que devemos passar a vida a desconfiar de toda a gente, mas sim que, no que toca a integridade e moral, "somos todos uma bela bosta".

Queres conversar?

"Apetece-me escrever um post."
"Então escreve."
"Não sei o que escrever."
"Então não escrevas. Só devias escrever quando tiveres alguma coisa para dizer."
"Vou escrever isso."

sábado, janeiro 13, 2007

O drama do fumador

A coisa boa de se ter conversas ridículas com as pessoas, é que eventualmente vamos começar a gostar mais delas porque vamos descobrir as coisinhas pequenas que nos aproximam.

Fora isso, e sem descrever pormenorizadamente a sensação do viciado quando não tem acesso ao seu vício, parece-me que toda a gente se identificará com a noção de que pior do que não ter por exemplo, comida quando se tem fome, é ter fome e ter comida e não poder comer.

No caso do fumador, pior do que não ter tabaco, é ter e não poder fumar, mais específicamente, quando falha o isqueiro... Quando nos esquecemos do isqueiro, quando falha o gás, quando ninguém à nossa volta tem um, quando não há máquinas de tabaco... tenho a certeza que este desespero é maior do que aquele de que sofre um fumador que genuinamente decide deixar de fumar!