domingo, abril 01, 2007

Confissões de pés lavados

Depois de muito discutir a filosofia da batata, chega-se à conclusão que pouco ou nada muda na vida. Independentemente de se acreditar ou não num ser ou numa força superior, pensar a existência é das frustrações que raramente me dou ao prazer de ter. O que é que faz sentido? Dizem que os horizontes se afinam, que as pedras da calçada se distanciam dos pés, que qualquer coisa se completa e que há perguntas que se deixam de fazer quando estamos apaixonados. Eu não vejo o horizonte, as pedras da calçada aleijam-me os pés e sinto-me repartida em pedaços pelas pessoas e lugares que fazem parte do meu mundo. Não me conheço tão bem como os outros me veêm, e vejo melhor os outros que aquilo que prefiro esconder de mim. Não consigo afastar as pessoas que não interessam e só me aproximo quando tenho a certeza que vou ser rejeitada. Sou disfuncional. Não vejo o mundo cor-de-rosa, nem o vejo a preto a branco. Na maioria dos dias, acordo de manhã e nem sequer o consigo ver. Prefiro pensar que as pequenas metas que vou traçando vão colorindo o quadro daquilo que seria uma vida preenchida. Mas há sempre qualquer coisa que fica para trás. Há sempre aquilo que todas as manhãs me passa pela cabeça e que eu prefiro manter anónimo, que não consigo confessar a mais ninguém, que me calcifica as articulações e corrói a alma. Até ter a certeza que não tenho nada a perder, prefiro continuar calada e fingir que não falo porque no fundo não é verdade.