domingo, janeiro 28, 2007

Simetrias

Os reflexos dos espelhos são sempre diferentes. Estamos a falar da mesma constante entidade, mas que nos devolve sempre imagens diferentes daquilo que achamos ser o nosso aspecto e o nosso estado.

Há pessoas que evitam esses reflexos estranhos e obscuros. Outras procuram-nos na tentativa de verem reflectida a imagem da segurança pessoal que querem criar perante os outros. A maioria olha para o espelho de manhã, para ter a certeza que não sai para a rua com um qualquer macaco no nariz, e evita a "reflexão" durante o resto dia para ter a certeza que não é confrontada com a precariedade de uma imagem que se vai degradando durante o percorrer do dia para atingir um pico de instabilidade quando chega a altura de ir dormir. Pelo menos é assim que eu me sinto. Não gosto de pensar que sou a única neste exercício de auto-destruição lenta e dolorosa de chegar ao final do dia e pensar, enquanto vejo a minha imagem reflectida no único objecto que me devolve aquilo que eu sou: "Afinal foi 'isto' com que me andei a pavonear durante o dia."

E depois dizem que o tabaco mata. Eu conheço formas mais dolorosas de morrer.