quarta-feira, maio 10, 2006

Só gosto de ti, de ti, de ti...

O ciúme é feio, é feio porque prova que não confiamos nos outros. Mas também é bonito, porque prova que gostamos dos outros, e sentimos ciúme porque temos medo de os perder. Mas então ficamos em quê? Numa dose irreal e incontrolável de um ciúme que não é mínimo e que encontra alturas ideais para se manifestar, mas que a partir de determinado momento se anula e é capaz de se transformar numa confiança cega que não somos sequer capazes de ter em nós próprios. O ciúme é o fruto mais sumarento da árvore da insegurança. Porque somos incapazes de equacionar o nosso valor, os outros também não o conseguem ver. Pelo menos na nossa cabeça.

Às vezes era bom que não existisse ciúme. Era bom que palavras como amor e amizade não tivessem quaisquer ligações, mesmo que ténues, com a palavra possessão. Mas não é assim que as coisas funcionam. E a partir do momento em que tornamos público um sentimento que pede reciprocidade e a recebe, torna-se num sentimento de posse, mesmo que veementemente afirmemos que não é assim. Somos incapazes de dar algo sem esperar nada em troca, nem que seja apenas a simples gratidão, muitas vezes mais importante que qualquer bem material. Ajudamos porque nos faz sentir bem, porque ver alguém feliz nos faz sentir bem, porque mesmo que envolva algo que nos prejudique, saber que alguém beneficia das nossas acções nos faz sentir bem. Por isso, ter alguém a sentir alguma coisa por nós, quer seja amizade ou amor, é um dever de estar ao nível desse sentimento e responder à altura. No fim de contas, somos todos muito egoístas, porque medimos sempre as nossas acções para que por mais fisicamente prejudicados fiquemos com alguma coisa, a nossa consciência esteja tranquila.