terça-feira, abril 04, 2006

Eu avisei-te...

Há medida que o tempo vai passando vamos aprendendo a nos sentirmos cada vez pior com cada vez mais coisas diferentes. O mundo é uma novidade, e é uma novidade que nos faz sentir mal. O contrário também pode ocorrer, e as pequenas coisas que nos afectam podem, a pouco e pouco, ir-se tornando cada vez menos importantes (não desaparecendo, isso nunca). Mas esta progressiva dessensibilização à dor e à desilusão não é uma coisa assim tão boa. Parece-me que se perde a noção básica do valor que temos e da quantidade de “insignificâncias” que estamos dispostos a suportar. É claro que o oposto é o seu próprio exagero. Há coisas que simplesmente não deveriam importar. E nós, enquanto poderosos donos dessa capacidade de ora sensibilizar ora dessensibilizar a consciência em relação às merdas que nos fazem, somos completamente inaptos nessa tarefa. Grande parte das vezes sofremos com minhoquices sem sentido e deixamos passar as verdadeiras afrontas à nossa dignidade sob o pretexto de “não terem importância”. E apesar disto, continuamos a, sempre que solicitados ou não, fazer análises “parciais” à vida dos outros tendo por base as “merdas” que nos acontecem. E porque é que quando temos razão em relação aos outros estes nunca seguem os nossos conselhos? Porque nós também não os seguimos. Porque fazer as coisas acertadas, na altura certa não está na nossa natureza, e, quando acontece é fenómeno digno de se assistir.