Síndrome dos conselhos dados mas não recebidos
Entre as muitas doenças mentais das quais eu certamente sofro e as quais não quero ver curadas porque até certo ponto entretêm a minha vida mental, de outra forma vazia de conteúdo e significado (mentirinha...) uma destaca-se com particular frequência, talvez por isso tenha decidido apelidá-la de síndrome dos conselhos dados mas não recebidos. Este síndrome tem como principal sintoma a falta de memória relativamente a todos os discursos moralistas e moralizadores que o sindromado alguma vez deu. Poder-se-á chamar a isto memória selectivamente emburrecedora e destina-se a evitar que entremos em conflito com a parolada que alimentamos na nossa cabecinha, qual animal doméstico adorado qual quê. Desta forma impedimos que a nossa consciência se aperceba de que sabemos perfeitamente qual é opção correcta mas continuamos a preferir não seleccioná-la, porque, enfim, estamos tapados. É por intermédio deste síndrome que somos, constantemente, forçados a cometer os mesmos erros, a posteriormente justificá-los, e, numa fase final, a nos culpabilizarmos, atentando contra a nossa própria auto-estima. É de referir que a quantidade crescente de mazelas produzidas por esta doença costuma ser inversamente proporcional ao número de pessoas directamente envolvidas na nossa vida e que se preocupam com a nossa existência, ou então ao número de pessoas em quem confiamos. O tratamento é considerado extremamente indiviual (ou seja, não é conhecido...) e, geralmente, só é posto em prática quando a quantidade de merda que já fizemos na vida começa a ser tanta, que nem os nossos mecanismos de defesa nos consigam impedir de a cheirar. Isso e as longas introspecções que somos capazes ou incapazes de realizar, e digo introspecções e não racionalizações que nos ajudem a prolongar a agonia das ilusões que cultivamos, aquelas que começam com "tu não me compreendes...".
3 Comments:
lol, é bem verdade. tu não me compreendes....ninguem compreende o nosso mundo
vejo-me neste post
eh pá, só para dar os parabéns, muito fixe. Escreves muito bem e de forma sóbria,racional e madura, que fico até sem graça do meu blog... he he he
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