terça-feira, maio 16, 2006

Quem é que ficou com o meu livro?

Coisa mais trágica. Um relacionamento chegou ao seu fim. Ele acabou com ela ou ela acabou com ele. Numa primeira fase pós-ruptura existe uma necessidade incompreensível de uma tortura pessoal através da presença física de lembranças do ser amado. Numa segunda fase, essas lembranças já não são suportadas e o objectivo é, agora, retirá-las do campo visual. No entanto, devido, igualmente, a uma razão incompreensível, é completamente descabida e impensável a ideia de dizer um adeus definitivo às mesmas. Numa terceira fase, vai tudo para o lixo, até que nada mais sobra do que a vívida memória daquilo que correu mal.

Fora isto, parece que é hábito que quando qualquer relacionamento chega ao fim, é tempo de serem devolvidos os objectos há muito emprestados. Numa cerimónia dolorosa do “toma lá o que é teu” vão-se desfazendo e mentalmente desvalorizando as memórias que esses mesmos objectos evocam. Era engraçado que pudéssemos aplicar isto à amizade quando temos mesmo muita vontade de reaver coisas nossas que há muito perdemos de vista. Por exemplo, nos casos em que numa fase acalorada da amizade, trocamos livros, cd’s, dvd’s e mais sei lá o quê, ocorrendo posteriormente uma separação a todos os níveis, incluindo o físico, o ideal seria encontrar o contacto dessa dita pessoa: Ei, tudo bem? Olha, daqui fala a Pipi das meias altas, eu tou-te a ligar porque quero acabar com a nossa amizade, acho que chegou a altura. Não faz mais sentido prolongar isto. Tenho a sensação que já não existe comunicação entre nós. Tenho aqui umas coisas tuas, é melhor combinar um sítio para trocarmos….