domingo, agosto 21, 2005

Perónio partido, rotura de ligamentos, luxação e mais sei lá o quê

A questão mais pertinente a colocar, no fundo no fundo, resume-se a: “Porque é que eu ainda não aprendi a cair?”, sendo que já o faço há uns anitos.

Outras questões também se poderiam colocar, do género: “Porquê eu?”, “Que fiz eu para merecer isto?”, “Porquê em Canas?”, “Porque é que mulheres, vestidas de amarelo, nos tocam no ombro à medida que somos empurrados de maca para dentro do hospital e nos dizem: ‘Pelo menos está viva!’?”. Mas, na verdade, simplesmente não lhes quero saber resposta.

Ouvir, às 5h da manhã palavras como: perónio partido e rotura de ligamentos, acompanhadas de operação, e, porque não, juntem-lhe “Aqui não porque não é de cá!”, alegram a manhã de qualquer um/a. Mas, vá, eu não sou qualquer uma. Eu não fiquei contente. E, não fosse o estado alterado em que me encontrava, provavelmente não teria vivido de forma tão calma a espera de duas horas, deitada numa maca, num corredor de hospital e a viagem de ambulância até à terra natal (depois prolongada para a terra vizinha porque o hospital da terra natal não tinha ortopedista). Se bem que calma poderá não traduzir de forma correcta o meu estado. Essa seria certamente a minha percepção. Vá, chorei um bocadito quando tive que ver os meus amigos a irem embora, e gritei um bocadito quando lá me puseram o pé no sítio, mas também me ri (“Ao menos esta é engraçada a berrar!”), e, pronto, fiquei um bocadinho obcecada com uns questionários. Mas também, não foi nada de mais. Se bem que estranhei a pergunta do médico: “Quer um calmante?”. “Não Sr. Dr., eu estou óptima, só vim aqui porque tenho um problemazito em pousar o pé no chão! Ah, e outra coisa… ESTÁ COMPLETAMENTE VIRADO PARA O LADO DE FORA! Mas de resto está tudo bem.”. Escusado será dizer que levei o calmante, imaginem lá onde, e não fez absolutamente nada.

Voltando ao que interessa, a verdade é que ainda não aprendi a cair. De todas as compilações de comportamentos suicidas que já fiz questão de obter, o chão esteve sempre presente. Sempre gostei do alcatrão, p. ex., às 6 horas de uma madrugada de Verão tem o seu quê de quentinho e aconchegante. Mas a verdade é que a terra nunca foi o meu forte. Cair na terra… huummm… não me cheira. Ou melhor, cheira-me que foi isso que me lixou! Não fosse a bela da festa de 15 de Agosto na terra nua e crua, nada disto teria acontecido. E, provavelmente, não teria originado a situação, que originou o sentimento, que deu origem ao post anterior. E o mundo seria um sítio melhor para viver, e eu não estaria atracada à cama, com talas provisórias na perna, à espera de saber se sou operada, agarrada ao computador, a tentar acabar/ começar o relatório que vai mudar a minha vida, e, neste exacto momento, a perder tempo a escrever um post que, no fundo no fundo, não tem jeito nenhum.


Mas, o que eu queria mesmo era desperdiçar tempo. E queria acrescentar que, enquanto agarrada ao Gonçalo, a dizer/ gritar: “Pro fabor, ajuda-me!”, a coisa que mais me intrigou foi o facto de olhar para baixo e verificar que por mais que tentasse endireitar a perna, o pé, esse doido, continuava a apontar para o lado esquerdo, como quem diz: “Olha que giro, o palco!”.

6 Comments:

At 1:28 da manhã, Blogger A Mulher said...

Este post é simplesmente brilhante... axo k nunca me ri tanto na minha vida... (mentira)

 
At 3:35 da tarde, Blogger Adriana said...

Eu só tenho a dizer que sempre quis conhecer o hospital de Viseu, custe o que custasse...

 
At 9:23 da tarde, Blogger A Mulher said...

podias ter dito, tenho lá conhecimentos...

 
At 10:15 da tarde, Blogger Adriana said...

A possibilidade de concretização do desejo surgiu de repente, não tive tempo para avisar ninguém...

 
At 1:51 da manhã, Blogger A Mulher said...

Sim, nem esperaste q eu chegasse, pra poder ter a oportunidade de surgimento de possibilidade de concretização do desejo de conhecer o hosp!

 
At 2:08 da manhã, Blogger Adriana said...

eu sempre fui precipitada. Desculpa.

 

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