sábado, novembro 03, 2007

Mas é suposto ser assim?

Às vezes penso que sou a única pessoa do mundo que nunca sente nada. Enquanto que às vezes descubro que afinal até estou contente, há sempre alguém a viver o mesmo que está mais contente do que eu. Aquilo que me deixa feliz é indiferente para os outros, e aquilo que para os outros me deveria deixar feliz é-me indiferente. Afinal sou só eu ou pensamos todos que a maneira correcta de sentir as coisas é alguma coisa que nos escapa. "Espera lá, eu não fiquei assim tão feliz. Aliás, se pensar bem sobre isso nem sequer feliz fiquei." Então e a tristeza? Tristeza é ainda pior. Essa chega quando lhe apetece, sem razão aparente. Quando tem razão é tão profunda que nem a sinto. Doi tanto cá dentro que o resto me escapa.

Mas o problema mesmo é aquilo que deixamos transparecer. É que se a maioria das pessoas acha o mesmo que eu. Se a maioria das pessoas acha que toda a gente fica sempre mais contente do que na verdade deveria ficar, então, por favor, deixem de fingir...

"Não vais sair hoje?"

Não. Vou morrer agarrada ao sofá. Vai ser de tal forma degradante que vão ter de me descolar do sítio onde me deitar. Todos os dias da minha vida que não sair vão ser mais um passo para o abismo. Mais um pé na cova. Mais um prego no caixão. Vou perder a cabeça e ligar a televisão. Vou absorver o marasmo da publicidade que me mostra a vida que me recuso a viver. Vou arranjar um mecanismo que evite ter de mexer os dedos para mudar de canal. Vou enrolar-me num cobertor, encolher-me na cama e desaparecer aos poucos, dia-a-dia, vou ficar cada vez mais vazia e com cada vez menos cérebro. Sim, não vou sair hoje. Já te tinha dito que também fumo?

É pena, mas ainda cá estás

"Nunca tive oportunidade de te dizer, mas de todas as coisas más que me aconteceram, tu foste certamente a pior."

Já tive oportunidade, mas escolhi não dizer.

"Tem cuidado e tira a teima
Porque aquilo que sou
Fere, rasga e queima"