sexta-feira, junho 29, 2007

O meu enigma

De todas as porcarias que passam na televisão, eu não vejo muitas. Algumas só. Mesmo. Não porque escolha poucas porcarias para ver, mas porque não vejo muita televisão. E depois a televisão que vejo é exclusivamente nocturna. Não vejo telejornais, não leio jornais, não leio livros, nao vejo filmes. Trabalho. E depois disso tomo café. Às vezes fumo. Curiosamente já fumei mais. Quando não me apetece não fumo, e não me apetece sempre fumar. Viajo. Entre duas cidades perco 6 horas de viagem todas as semanas. Na verdade não perco, porque se não viajasse também não estaria a fazer outra coisa. Vivo de arrasto. Não gosto nem desgosto de viver. Vivo. Não faço nada para não viver, mas também não faço nada para viver. Nada me estimula e aquilo que me desagrada tenho tendência para evitar. Os problemas rodam à minha volta. Não considero que me deva preocupar comigo própria porque a situação das pessoas à minha volta é bem mais importante que a minha. Não sei o que é que estou aqui a fazer, mas se não estivesse aqui também não saberia porque não estar. Já me esqueci do sabor de muitas coisas e não me lembro da última vez que fui feliz. Vou, progressivamente, ficando pior e não me apetece evitar.

É um enigma.

Quem sou eu?

E se fosses pó caralho.

Depois de cinco vezes a escrever três frases depressivas e deprimidas, aqui vai a última:

E se fosses pó caralho?

Que é aquilo que me apetece dizer todos os dias. E se fosses pó caralho? quando me perguntam de manhã se é só o cafézinho. E se fosses pó caralho? quando me perguntam durante a manhã quem é que lhes ligou. E se fosses pó caralho? quando me perguntam há hora de almoço se a comida está boa. E se fosses pó caralho? quando me perguntam a meio da tarde porque é que eu não falo. E se fosses pó caralho? em vez do até amanhã quando pico o ponto.

E se fosses pó caralho quando acordo todas as manhãs?
E se fosses pó caralho quando me deito todas as noites?

Pois é. Se fosses, tavas sempre lá.