domingo, junho 25, 2006

Síndrome dos conselhos dados mas não recebidos

Entre as muitas doenças mentais das quais eu certamente sofro e as quais não quero ver curadas porque até certo ponto entretêm a minha vida mental, de outra forma vazia de conteúdo e significado (mentirinha...) uma destaca-se com particular frequência, talvez por isso tenha decidido apelidá-la de síndrome dos conselhos dados mas não recebidos. Este síndrome tem como principal sintoma a falta de memória relativamente a todos os discursos moralistas e moralizadores que o sindromado alguma vez deu. Poder-se-á chamar a isto memória selectivamente emburrecedora e destina-se a evitar que entremos em conflito com a parolada que alimentamos na nossa cabecinha, qual animal doméstico adorado qual quê. Desta forma impedimos que a nossa consciência se aperceba de que sabemos perfeitamente qual é opção correcta mas continuamos a preferir não seleccioná-la, porque, enfim, estamos tapados. É por intermédio deste síndrome que somos, constantemente, forçados a cometer os mesmos erros, a posteriormente justificá-los, e, numa fase final, a nos culpabilizarmos, atentando contra a nossa própria auto-estima. É de referir que a quantidade crescente de mazelas produzidas por esta doença costuma ser inversamente proporcional ao número de pessoas directamente envolvidas na nossa vida e que se preocupam com a nossa existência, ou então ao número de pessoas em quem confiamos. O tratamento é considerado extremamente indiviual (ou seja, não é conhecido...) e, geralmente, só é posto em prática quando a quantidade de merda que já fizemos na vida começa a ser tanta, que nem os nossos mecanismos de defesa nos consigam impedir de a cheirar. Isso e as longas introspecções que somos capazes ou incapazes de realizar, e digo introspecções e não racionalizações que nos ajudem a prolongar a agonia das ilusões que cultivamos, aquelas que começam com "tu não me compreendes...".

terça-feira, junho 13, 2006

O leite que vem do pacote e a carne que vem do talho

A importância de perceber de informática nos dia de hoje é extremamente relativa. Ao contrário do que possa parecer, a generalidade das pessoas percebe cada vez menos de informática. Cada vez mais as coisas se tornam simples no funcionamento de, por exemplo, um computador. Há um botão para ligar e a partir daí a magia acontece. É tipo o mistério do leite para os putos da cidade. As vacas não existem, o leite vem do pacote. A tecnologia é cada vez mais simples e a sua utilização cada vez mais básica. Os técnicos de informática reproduzem-se qual coelhos em época de acasalamento. E toda a gente conhece alguém que percebe de computadores. Ou seja, uns especializam-se, outros emburrecem. No fundo, aquilo que se vai perdendo é a capacidade de resolução de novos problemas e de adaptação a novas situações, aquele componente essencial da inteligência, que nos permite desenrascar e chegar a conclusões relativamente a assuntos sobre os quais inicialmente não percebemos um cu. Agora não é preciso, mais vale não mexer, não queremos fazer merda irremediável. Mas isto não acontece só com a informática. Cada vez estamos mais burros em relação à vida. Cada vez mais o conhecimento é demasiado para que possamos estar minimamente dentro de tudo um pouco. Nos dias de hoje, a capacidade de adaptação a novas situações é ter um telemóvel recheado de números de telefone.

Je sou Portuguese

Os Imigrantes Portugueses. Os imigrantes portugueses não gostam de Portugal. Os imigrantes que saem de Portugal não são Portugueses. Portugal é um país assustador para os imigrantes portugueses que chegam a Portugal Emigrantes de outro país. Tantos carros nas estradas durante o dia todo, mas os portugueses trabalham quantos minutos por dia? Depois de um ano e meio fora de Portugal, os imigrantes portugueses esquecem-se de como é Portugal. Mas Portugal tem alguma coisa de jeito? Os imigrantes portugueses não falam português, excepto quando querem mandar caralhadas. Manger la soupe, Michel! ... Miguel, come já o caralho da sopa! São os Emigrantes Estrangeiros que mais gostam de Portugal.

A Selecção Nacional ganhou o primeiro jogo do Mundial, mas não marcou golos suficientes. Eu repito: A SELECÇÃO NACIONAL GANHOU O PRIMEIRO JOGO DO MUNDIAL, mas não marcou golos suficientes. Não há nacionalismo em Portugal, há nacionalistas de ocasião que têm vergonha de escrever Nacionalidade: Portuguesa.

quinta-feira, junho 08, 2006

Então e o County General Hospital, aquele onde trabalhava o George Clooney, fica onde?

Hoje estive no hospital. Estive no hospital porque fui acompanhar uma pessoa a uma consulta externa. Não porque estou doente ou porque suspeito ou alguém suspeita que estou doente ou sequer grávida. Sim, porque as pessoas com que nos deparamos dentro de um hospital estão lá praticamente todas por razões desta natureza, tirando os funcionários é claro. Eu iria mais longe e afirmaria que as únicas pessoas que se passeiam bem dispostas dentro do hospital são, invariavelmente, quem lá trabalha ou vai lá fazer recados. É tipo uma repartição das finanças ou uma cadeia, quem usufrui dos serviços lá prestados e gosta de lá estar ou é doidinho ou não tem os parafusos todos.

De qualquer modo, se ouvimos da boca de alguém que foram ao Hospital pensamos imediatamente: Meu Deus!! Porquê?? Tá doente! Aconteceu alguma coisa de muito grave!

O corredor de um hospital é o local mais melancólico e doente para se passar o tempo. Por se tratar de um hospital, deduz-se, automaticamente, que as pessoas que aguardam as consultas estão doentes, e se não estão doentes estão prestes a ficar, e se não estão prestes a ficar estão a acompanhar alguém que está. Se se está melhor, já se esteve doente. E depois vem a tosse. Toda a gente tosse. Tosse aqui, tosse ali. Numa igreja o padre pára a missa para mandar a velha parar de tossir, já não há respeito (eu estava lá quando isto se passou... sim! já frequentei a missa...), num hospital, quem tosse está a dar as últimas. Até as grávidas me parecem tristes. Passa-se por uma mulher grávida na rua e ela brilha, no hospital estão tristes, cansadas e sem brilho. E depois é engraçado, num sítio que deveria ser do mais higiénico que há, tudo tem aspecto de velho e um cheiro estranho... de velho. Não gosto do aspecto dos hospitais, e só tenho a dizer que nos filmes, aquilo parece tudo muito mais limpinho, mesmo quando é velho.

terça-feira, junho 06, 2006

Vamos a la playa

Chegado o Verão é altura de tirar do armário o material de banhistas aplicados que somos e atacar as praias à procura de sol, areia e mar. Chegamos à praia e estendemos a toalha, porque deitados na areia é que não. Ter aqueles grãozinhos minúsculos espalhados pelo corpo a fazer comichão é o pesadelo dos lagartos humanos que se estendem o dia inteiro na toalha a trabalhar para o bronzeado o mais uniforme e escuro o possível, em casos extremos, pode-se sempre recorrer ao óleo Johnsons, isto para quem gosta de fritar e de carne vermelha. Depois da toalha é altura de abrir o guarda-sol. Uma boa estadia na praia não estaria completa sem o refúgio dos raios solares, o resquício de sombra fornecida por um pedaço de pano relativamente pequeno sob o qual nos escondemos protegendo a pele com um creme com factor de protecção total, renovando as aplicações de cinco em cinco minutos. Finalmente chega a altura de caminharmos até ao mar na procura do arrefecimento fornecido pela água salgada. Dado tempo de exposição ao sol e a temperatura ambiente, se a praia em causa se situar no norte do nosso país, é praticamente impossível considerarmos a água como outra coisa que não seja fria e aí berramos ai ai ai que fria, não não não consigo. De meia em meia hora voltamos a visitar a água marinha com esperança de que seja tempo suficiente para terem ligado o esquentador e aberto as torneiras.

Eu já não sei o que significa praia. Talvez o que fica depois de tudo isto acontecer.