quinta-feira, maio 18, 2006

Melhorar a experiência do "cinema"

Perante as alarmantes descidas no número de espectadores das salas de cinema por todo o país e com objectivo de aliciar a população a ir mais frequentemente ao cinema, os responsáveis pela gestão das salas desenvolveram um conjunto de medidas de forma a tirar as pessoas de casa e sentá-las nas suas magníficas cadeiras. A solução corresponde, deste modo, à transformação das salas de cinema em locais onde as pessoas se possam sentir em casa. A primeira medida, e a única até agora a ser posta em prática refere-se ao prolongamento das sessões dos filmes, permitindo o preenchimento do tempo inicial, com nada mais nada menos do que quinze minutos de publicidade. Para o espectador é exactamente como se estivesse em casa a ver televisão. Infelizmente, a medida dos 4 intervalos por filme ainda não foi aplicada, nem tem data prevista de início. Aí sim, ia ser um espectáculo.

terça-feira, maio 16, 2006

Quem é que ficou com o meu livro?

Coisa mais trágica. Um relacionamento chegou ao seu fim. Ele acabou com ela ou ela acabou com ele. Numa primeira fase pós-ruptura existe uma necessidade incompreensível de uma tortura pessoal através da presença física de lembranças do ser amado. Numa segunda fase, essas lembranças já não são suportadas e o objectivo é, agora, retirá-las do campo visual. No entanto, devido, igualmente, a uma razão incompreensível, é completamente descabida e impensável a ideia de dizer um adeus definitivo às mesmas. Numa terceira fase, vai tudo para o lixo, até que nada mais sobra do que a vívida memória daquilo que correu mal.

Fora isto, parece que é hábito que quando qualquer relacionamento chega ao fim, é tempo de serem devolvidos os objectos há muito emprestados. Numa cerimónia dolorosa do “toma lá o que é teu” vão-se desfazendo e mentalmente desvalorizando as memórias que esses mesmos objectos evocam. Era engraçado que pudéssemos aplicar isto à amizade quando temos mesmo muita vontade de reaver coisas nossas que há muito perdemos de vista. Por exemplo, nos casos em que numa fase acalorada da amizade, trocamos livros, cd’s, dvd’s e mais sei lá o quê, ocorrendo posteriormente uma separação a todos os níveis, incluindo o físico, o ideal seria encontrar o contacto dessa dita pessoa: Ei, tudo bem? Olha, daqui fala a Pipi das meias altas, eu tou-te a ligar porque quero acabar com a nossa amizade, acho que chegou a altura. Não faz mais sentido prolongar isto. Tenho a sensação que já não existe comunicação entre nós. Tenho aqui umas coisas tuas, é melhor combinar um sítio para trocarmos….

segunda-feira, maio 15, 2006

ela...

"A lua é o mais mutável dos corpos do universo visível e o mais regular nos seus complicados hábitos: nunca falta aos seus encontros e pode-se sempre esperá-la no caminho; mas se a deixas num sítio encontra-la noutro e se te lembras da sua cara virada para um lado, ei-la que já mudou de pose, por pouco ou muito que seja. De qualquer forma, se a seguirmos passo a passo, não nos apercebemos de que ela nos vai imperceptivelmente fugindo. Só as nuvens contribuem para criar a ilusão de uma corrida ou de metamorfoses rápidas, ou melhor, para dar uma vistosa evidência àquilo que de outro modo se furtaria ao olhar."


Palomar de Italo Calvino

sábado, maio 13, 2006

Temos Homem! (estúpido...)

Ouvi dizer que agora, quem meter mais que um pezinho no mar enquanto a bandeira estiver vermelha, fica sujeito ao pagamento de uma multa. Eu acho que isto diz muito acerca do nosso país e do típico português. Ora este típico português é um gajo destemido, que sabe perfeitamente quais as consequências de se aventurar num mar perigoso, mas que mesmo assim, e apesar da prudência e da autoridade marítima (neste caso o nadador salvador de serviço) lhe indicarem o contrário, o tal destemido português acha-se capaz de enfrentar e vencer aquilo que de pior o mar lhe atire à cara. É tão destemido este português, que praticamente só quando lhe começam a meter a mão no bolso, é que ele pensa duas vezes antes de fazer estas proezas. A morte? Venha ela! Agora xularem-me é que não...

quarta-feira, maio 10, 2006

Ei lá, tás com uma voz estranha...

Face à hipótese de passar as manhãs a visionar os fantásticos programas "familiares" da RTP1, da SIC e da TVI, todos óptimas escolhas, recorro à 2:, que passa desenhos animados a manhã toda. A maioria são intragáveis chegando, mesmo assim, a ser desejáveis. Por entre o Dr. Cão, o Carlos Clone, o Telmo e outros tantos, passam coisas esquisitíssimas que não consigo perceber, mas fora isso, ainda se vai mastigando e engolindo a televisão. Isto tudo para dizer que, de semana para semana, vão alterando a programação, adicionando e retirando programas, às vezes os que gosto mais, e hoje reparei que não retiraram o desenho animado em si, mas parece que despediram as vozes que faziam a dobragem e agora tenho a sensação que se não estiver a olhar para a televisão não consigo identificar o que está a dar.
Para além disto, calhei no erro de ligar a RTP1 a uma qualquer hora da tarde e descobri para meu grande desagrado que dobraram uma série televisiva que costumava dar ao domingo à tarde. Eu gostava de saber qual a piada de fazer estas brincadeiras, e de certeza que me podem dar muitas razões, mas garanto que nenhuma delas é válida na minha cabeça. E com isto gostava de fazer referência à tradição espanhola e italiana (deve haver mais por aí...) de dobrar para a língua materna tudo quanto é estrangeirada que pelas mãos deles passa. Até nos cinemas! Ora na minha cabecinha dobrar filmes e séries televisivas é coisa que faz pouco ou nenhum sentido. Ainda mais dar cabo da hipótese de ter acesso através da televisão aos produtos originais que vêm do estrangeiro. É que só dá vontade de dizer "mas que raio de merda é esta?". Querem mais produção portuguesa? Então façam-na...

Só gosto de ti, de ti, de ti...

O ciúme é feio, é feio porque prova que não confiamos nos outros. Mas também é bonito, porque prova que gostamos dos outros, e sentimos ciúme porque temos medo de os perder. Mas então ficamos em quê? Numa dose irreal e incontrolável de um ciúme que não é mínimo e que encontra alturas ideais para se manifestar, mas que a partir de determinado momento se anula e é capaz de se transformar numa confiança cega que não somos sequer capazes de ter em nós próprios. O ciúme é o fruto mais sumarento da árvore da insegurança. Porque somos incapazes de equacionar o nosso valor, os outros também não o conseguem ver. Pelo menos na nossa cabeça.

Às vezes era bom que não existisse ciúme. Era bom que palavras como amor e amizade não tivessem quaisquer ligações, mesmo que ténues, com a palavra possessão. Mas não é assim que as coisas funcionam. E a partir do momento em que tornamos público um sentimento que pede reciprocidade e a recebe, torna-se num sentimento de posse, mesmo que veementemente afirmemos que não é assim. Somos incapazes de dar algo sem esperar nada em troca, nem que seja apenas a simples gratidão, muitas vezes mais importante que qualquer bem material. Ajudamos porque nos faz sentir bem, porque ver alguém feliz nos faz sentir bem, porque mesmo que envolva algo que nos prejudique, saber que alguém beneficia das nossas acções nos faz sentir bem. Por isso, ter alguém a sentir alguma coisa por nós, quer seja amizade ou amor, é um dever de estar ao nível desse sentimento e responder à altura. No fim de contas, somos todos muito egoístas, porque medimos sempre as nossas acções para que por mais fisicamente prejudicados fiquemos com alguma coisa, a nossa consciência esteja tranquila.