sexta-feira, dezembro 30, 2005

O final do meu ano

Eu, efectivamente, não consigo pensar. Não consigo sentar-me na cadeirita do computador e levar uma ideia até ao fim. Não consigo sequer verbalizar direito os pensamentos. Tenho um buraco na alma e uma lágrima no coração que parecem não desaparecer, e que por mais que o mundo não tenha a ver com isso, volto sempre ao canto escuro da divisão da casa em que me deixam sozinha e em que não tenho de viver e posso só deixar a vida passar por mim. Acho que as minhas moradas estão vazias e o sofá está gasto no sítio onde me sento e desperdiço a minha vida...

A noite mais longa do ano, a que passa mais devagar e a que menos me interessa

A vida vai continuar miserável. Eu não vou mudar e não vou começar a fazer aquilo que devia. O tempo não vai passar mais rápido. De uma forma ou de outra, os desejos não se realizam, por isso mais vale aceitar a realidade e continuar a dormir.

Era isto que me apetecia fazer.

quinta-feira, dezembro 29, 2005

O segredo para uma vida feliz

Hoje sei que conheço, com grande probabilidade, o segredo para conseguir uma vida plena e feliz. Como não sou invejosa e gosto de ver os outros felizes (e também porque acho que está mais do que na hora de começar a continuar a escrever parvoíces) resolvi partilhar com o mundo (passem a palavra, por estranho que pareça e por razões que desconheço, nem toda a gente visita este blog).

Eu acho que uma das grandes fontes de infelicidade na vida das pessoas, resulta do tempo que passam à espera quando têm algum compromisso marcado. Perdem-se anos de vida à espera para apanhar um autocarro ou um comboio, à espera de sermos atendidos, p ex. num banco, num centro de emprego ou num consultório médico. Acordamos mais cedo porque temos de chegar duas horas antes não sei onde para garantir que somos atendidos. Saímos mais cedo de casa para termos a certeza que somos nós que esperamos pelo comboio porque este certamente não espera por nós. Todas estas situações são causa de desespero, perda de tempo e poderão ter consequências gravíssimas na vida de cada um (não vou enumerá-las, porque de certeza que são muitas).

Qual será, então, a solução para esta decadência de vida em espera? Chegar atrasado. Se não for atrasado, no mínimo mesmo em cima da hora.

E porque será que esta solução é tão fantástica? Porque se o atraso for mesmo sincero, há sempre hipótese de não se ser obrigado a adiar compromissos. Para além do que, é certo e sabido que a hora de menor fluxo é quando está tudo a ir embora, e não quando está tudo a chegar.

No meu caso, cheguei meia hora depois da hora da consulta. Acho que fiquei dois minutos à espera.

É claro que para tudo na vida existem excepções. O bom do segredo é saber quando utilizá-lo. Agora sejam felizes à vontade...


PS: Para quem quiser saber, e mesmo para quem não quiser, o tornozelo está oficialmente óptimo.

terça-feira, dezembro 27, 2005

Avisos a mim própria

Nunca, mas mesmo nunca, ir ao cinema ver um filme num dia de semana à tarde, em altura de férias escolares, que exija atenção e concentração.
Aproveita a validade residual do cartão de estudante.
Mima-te de vez em quando.

sábado, dezembro 24, 2005

O Natal caralhense

Porque o Natal (não necessariamente o espírito natalício) chega até aos lugares mais inóspitos do planeta, incluindo tudo quanto é buraco negro, também chegou aqui:

Feliz Natal!

quarta-feira, dezembro 21, 2005

Eu e as minhas manias

A absoluta necessidade de estar sozinha é lenta e penosamente evidente quando já não se suporta o mínimo controle ou sequer opinião sobre o que é e o que está para vir.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Band Aid: O penso rápido da sociedade ocidental

Com um título destes seria de esperar que algo de jeito fosse sair deste post. No entanto, não querendo defraudar expectativas e como temas que realmente interessam nunca foram verdadeiramente interesse da autora deste blog, há que continuar com uma linha de posts enganadores.

Posto isto, devo dizer que também, nesta bela época faço questão de ouvir músicas ditas natalícias. Não é frequente, e geralmente só acontece para descongestionar o ouvido do habitual. Aconteceu hoje. E enquanto ouvia a música Do they Know it's Christmas e me lembrava do Band Aid, do Live Aid e, infelizmente, do Bob Geldoff na entrega dos MTV Music Awards deste ano, fui ouvindo a letra e apreciando as rimas maravilhas que foram construídas por este e por Midge Ure (é verdade, fui ver o nome do gajo). Pasma com a geniosidade dos autores e tendo em conta que a música foi inicialmente escrita quando Geldoff ficou parvo e comovido com os relatos de fome na Etiópia captei o seguinte a meio da letra:

And there won't be snow in Africa this Christmas time

Foi nesta altura que quem ficou comovida fui eu. É verdade, no Natal em que a música foi escrita não nevou em África. Mais do que isso, todos os Natais em que ouvimos esta música ela continua a estar na mó de cima porque não vai nevar em África. Está aqui, a preto e branco, a verdadeira razão pela qual nos deveremos comover com os relatos de fome em África, porque lá não neva.

Vamos todos juntar uns trocos e enviar para África porque coitados, eles lá não têm neve.

O Senhor dos Anéis

Ouvi dizer que o turismo na Nova Zelândia aumentou em muito desde que a triologia do Senhor dos Anéis foi concluída. Era previsível, afinal, quem não gostaria de visitar as maravilhosas paisagens daquele país, principalmente depois de as termos visto no écran. Mas o mais engraçado, ou então não, é que a principal razão pelo qual o turismo aumentou é a curiosidade dos turistas em ficar a "conhecer um bocadinho da Terra Média". Ou seja, já não bastava fazermos a merda que fazemos ao planeta, quando finalmente parece que lhe estamos a dar valor, afinal é porque nos faz lembrar uma terra imaginária.

A Fraude Natalícia de 2005

De acordo com o que é noticiado todos os dias na televisão, o Pai Natal despenhou-se. Quer seja por problemas intestinais das renas, ou por outra razão qualquer, o Pai Natal despenhou-se. Eu, muito sinceramente, não sei porque anda toda a gente contente. Partindo do princípio que todos acreditamos no Pai Natal, que ele, na madrugada de 25 de Dezembro tem de dar a volta ao mundo para entregar presentes ao pessoal todo, porque raio é que ter-se despenhado agora, a menos de duas semanas do Natal, é algo pelo qual temos de estar felizes. Eu acho isso trágico, então e se as renas não se conseguirem recompor até lá? E se o próprio Pai Natal não se sentir em condições de pilotar o trenó? Tá tudo lixado!

Eu acho que em vez de andarem por aí a festejar, deviam era mandar a equipa do CSI (Las Vegas ou Miami, a que chegasse ao local mais rápido) investigar as causas do incidente. É que posso estar redondamente enganada, mas aquelas barbas brancas só podem ser indicativas de senilidade, e, sendo o caso, este "acidente" era completamente evitável. E vou mais longe, era começar já a procurar um substituto à altura, porque isto de ter Natal sem Pai Natal não tem jeitinho nenhum.

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Memórias do que já passou

Parece-me que cada um tem uma maneira muito particular de recordar os acontecimentos da sua vida. Independentemente dos factos e daquilo que, efectivamente, aconteceu, somos capazes de pegar nas palavras de alguém e construir uma memória que a partir de determinada altura já não conseguimos distinguir daquilo que foi. Para além de tudo isto, somos capazes de romantizar os aspectos da nossa memória que mais importância actualmente tem para nós, mesmo que na altura não tenham significado aquilo que gostávamos de ter apreendido. Por isto tudo, várias das recordações que tenho apresentam características similares, que eu já não consigo identificar como sensações especiais na altura, se sensações que eu agora gosto simplesmente de vasculhar e fazer sobressair.

Tendo tudo isto em conta, começo por dizer que o sol é das características presentes na minha vida que mais me faz recordar momentos vividos. E reparei nisto há medida que fui procurando as memórias que tenho de todas as escolas por onde já passei. O portão do Infantário, com a tinta a descascar aquecida pelo sol, que ficava virado para o terreno baldio para onde pesadamente olhava e via as máquinas a construírem a nova Junta de Freguesia enquanto esperava que a minha mãe me fosse buscar. As altas janelas da sala de aula do quarto ano da Escola Primária semicerradas enquanto fazíamos os ditados cabisbaixos e com um medo desgraçado dos erros e das reguadas que os seguiriam. Os passeios de cimento aquecido pelo sol que rodeavam os pavilhões da Escola Preparatória. Os tampões pretos das mesas dos laboratórios da Escola Secundária que aqueciam por entre as frinchas das persianas puxadas até meio. Os claustros iluminados por um quadro pintado com um céu azul, limpo e um sol de fim de tarde de Inverno, que ainda consegue aquecer por entre os bafos de frio visíveis dentro das salas com aquecedores deficientes e corredores com o chão pintado pelos raios que penetram através das portas das varandas às vezes fechadas, às vezes abertas.

Um sol tão brilhante que obriga a fechar os olhos. A cara que aos poucos começa a aquecer. O nariz e as mãos que lentamente descongelam. O silêncio por entre o barulho dos intervalos. O som de fixar uma memória que mais tarde se vai recordar. Ou então, simplesmente, um momento para parar e apreciar uns breves instantes vazios de pensamentos, vazios de preocupações onde o calor começa a abraçar os centímetros de pele expostos aquecendo também os escondidos. Às vezes fecho os olhos e gosto de voltar lá, a esses instantes e tirar uma folga destes.

Crónicas de uma mulher desempregada I

Posso dizer que ainda não sinto a inevitabilidade do desemprego a pesar-me nos ombros, sinto mais algo parecido com um sentido de inutilidade que nem sequer me deixa concluir projectos aos quais acho piada e para os quais tenho efectivamente tempo de sobra. Tanta coisa que poderia fazer e que faço questão de iniciar mas que por uma qualquer razão também faço questão de não terminar. Tenho a ligeira sensação de que se começar a ocupar o meu tempo com algo mais do que simplesmente uma existência arrastada, vou ver-me a braços com um sonho de uma vida que eu não tenho.

Enfim, o que eu queria mesmo dizer é que não compreendo como é que as pessoas se podem queixar e dizer que o diploma do curso demora anos até estar pronto. Até porque a mim cheira-me que vou ter o dito cujo nas mãos e ainda vou andar a pastar pela face da terra à procura de um emprego que, pelo menos no nome, tenha alguma coisa a ver.

terça-feira, dezembro 13, 2005

As coisas que eu aprendo com a televisão ligada quando estou no computador



Foi ontem que aconteceu. A televisão estava no canal 2. O programa era Hora Discovery. O tema era animais perigosos. E eu aprendi a reconhecer a cobra coral e distingui-la de quem a quer imitar. E isto ficou-me na memória:

red touch yellow, kill a fellow, red and black, you’re ok Jack


As imagens são de uma Cobra Coral e de uma Falsa Coral. Descubram as diferenças.


PS: A minha vida é efectivamente muito triste…

O meu amiguinho de infância

Resolvi escrever este post em homenagem ao meu amiguinho de infância e àquilo que ele significou para mim. Digo ele porque o meu amiguinho de infância foi um rapaz, um primo, mais novo um ano do que eu. Íamos para a escola juntos. Brincávamos no final da tarde juntos. Visitávamos a casa um do outro ao fim de semana. Por causa deste amiguinho de infância posso dizer que guardo umas óptimas recordações de brincadeiras "maria-rapaz" que foram o prato forte de grande parte da minha infância: a primeira vez que andei de bicicleta, que roubei rosas do casarão, que brinquei com carrinhos e berlindes.

Acho que os amiguinhos de infância são o nosso primeiro abrir de olhos para as necessidades dos outros. É a primeira vez que aprendemos a gostar de alguém e fazemos esforços para ter essa pessoa ao nosso lado. No meu caso, era um primo, mas podia não ser.

Não me lembro muito bem do início da separação, da passagem para o tempo em que já não nos conhecíamos. Acho que tudo começou com a mudança do foco de atenção das minhas brincadeiras para o universo feminino. Hoje em dia ficamos pelos cumprimentos, quando nos vemos, e há uns bons anos que não o vejo.

segunda-feira, dezembro 12, 2005

Adriana, a revoltada

Hoje fiquei parva. É algo que me acontece com alguma frequência, principalmente em locais públicos. Hoje foi no Centro de Emprego, não porque tenha ficado desiludida com a oferta de emprego que tinham para mim (e, já agora, fiquei), mas por ter ficado parva com a forma como aquele local funciona.

Há uns dias atrás recebi uma bonita carta a informar-me da existência de uma oferta de emprego na sequência do meu pedido de emprego naquele centro. Esta bonita carta continha a informação de que deveria estar presente no local às 15h40. Mulher precavida que sou, apareci eram 15h20. Entreguei a carta ao segurança/recepcionista que me informou que deveria esperar até ser chamada. Até aqui tudo bem. Olhei para o placar electrónico que continha a informação dos números que estavam a ser chamados para a recepção 1 e para o atendimento 2, e efectuando um rácio entre as pessoas que estavam presentes e os números a ser atendidos, cheguei à conclusão que provavelmente estaria muita gente com a mesma cartinha que eu (isso e o facto de ter visto o amontoado de cartas na secretária do segurança). Deduzi que teria de ficar muito tempo à espera, nada para o qual não estivesse preparada. Deduzi igualmente que o Centro de Emprego deveria ficar aberto numa estimativa aproximada até às 18h (dado que não reparei na informação à entrada) porque ainda estava cheio e já eram quase 16h. Estava errada, como mais tarde vim a confirmar, fecha às 16h, hora a partir da qual não entram mais pessoas e toca a escoar o que ficou lá dentro.

A média do tempo que era passado pelos candidatos dentro do gabinete onde éramos suposto entrar, era de, aproximadamente 20 min. Tendo em conta que as grávidas têm prioridade e que entraram duas antes de mim, deduzi que os trabalhos estavam atrasados. Só comecei realmente a ficar preocupada quando as pessoas que já estavam lá à espera constantemente interpelavam o segurança/recepcionista sobre quantos candidatos estariam à sua frente, ao que este respondia sempre com números entre 4 e 6, dando uma possibilidade de mais uma vez, estimar o meu tempo de espera: muito.

Pouco tempo depois de ter entrado, fiquei surpreendida (ou então não) por ver entrar uma colega de faculdade, de especialização em clínica. Mais ou menos por esta altura comecei a questionar-me sobre a validade do recrutamento feito por aquele centro de emprego. Duas hipóteses ocorreram: ou não tinha a ver com a minha área, ou não tinha a ver com a dela, em princípio com o tronco comum (formação geral em psicologia) teria a ver.

O momento em que realmente passei de despreocupada para ansiosa/nervosa foi aproximadamente às 17h quando descobri o que se passava dentro daquele gabinete misterioso: de acordo com o segurança/recepcionista estávamos todos ali para entrevistas a serem efectuadas pela empresa detentora da vaga. Primeiro pensamento: "Merda, não trouxe o curriculum!". Este pensamento foi acalmado pelo burburinho geral, ninguém vinha preparado para entrevistas. Afinal, eu não era a única parva que ao ler a carta do Centro de Emprego, achou que se tratasse de reunião inofensiva feita por funcionários do CE onde a oferta era apresentada.

Depois desta revelação, fiquei ainda mais preocupada quando ouvi alguém a perguntar à pessoa que tinha saído do gabinete de que empresa se tratava, não ouvi a resposta mas ouvi o comentário de quem perguntou "E o que é que isso tem a ver?!". Pensei: "Merda!". Mas como não sabia qual era a formação de quem fez a pergunta, relaxei um bocadinho.

O meu estado de ansiedade/nervosismo não foi alterado depois destas revelações, mas sim o aparvalhice, quando descobri que, independentemente da hora que esteja escrita na carta (e são todas diferentes) as pessoas são chamadas por ordem de chegada. Pronto, e não é que eu achei estranho o facto de terem colocado 10 min. de intervalo entre o tempo que chamam as pessoas nas cartas enviadas, afinal poderiam ter poupado tempo e imprimir as cartas de enfiada, tudo com a mesma hora, é que se eu soubesse, tinha aparecido às 14h, hora a que cheguei ao local, mas, armada em esperta fui tomar café.

Quando fui chamada, por volta das 17h30, fiquei a saber que a oferta de emprego era para dietista (mais uma cara de parva que fiz), valeu o facto de ter oportunidade de dizer "Não estou preparada para desistir já de encontrar alguma coisa na minha área." (cheira-me que foi das maiores burrices que já disse, mas pronto), de me terem chamado de colega (pelos entrevistadores, acho que numa de coitadinha, nem sabes o que te espera...) e de ter tido a possibilidade de fazer a bela da figurinha quando me fui embora:
Eu: Boa tarde!
S/R: Já?!
Eu: Comigo é rápido!


Rescaldo:
- Apesar de tudo compreendo porque me tenham chamado, isto porque acredito que o princípio geral que governa o CE é o de "quanto mais gente melhor, nem que seja só para dizer que aqui trabalha-se"
- Acho que andam a gozar com a cara das pessoas, porque há desempregados com uma vida (mesmo que eu não me encaixe nessa categoria)
- Continuo a achar inacreditável que o serviço funcione apenas com uma sala de atendimento (embora hoje não tenha passado por lá)
- Saí de lá a pensar na validade daquela selecção
- Para já penso positivamente (ainda com cara de parva): Pelo menos fui chamada!
PS: Este é daqueles posts em que quantidade e qualidade não estão relacionados

domingo, dezembro 11, 2005

Eu e as compras de Natal

Ora aqui está uma das características do Natal que eu detesto: ir às compras. Mesmo que não sejam compras que envolvam presentes a oferecer a terceiros, qualquer tipo de compra que se faça no Natal, transformasse numa compra de Natal.
Da mesma forma como alguém faz uma lista de compras antes de sair de casa, ou então como quem faz uma lista das pessoas a quem quer, vai e tem de comprar prendas, eu também fiz uma lista das razões porque detesto sair de casa e ir às compras na dita época natalícia (já que não faço qualquer das outra listas):

- Não existe uma altura do dia ou um dia da semana em que se possa dizer que as lojas estarão mais vazias, toda a gente tem tempo para a qualquer altura ir às compras;
- As lojas estão apinhadas de gente, e caso se trate de uma loja pequena ou então com corredores apertados acontece aquilo que eu mais detesto: forma-se uma fila de pessoas em que é impossível andar mais rápido do que quem vai à frente ou sequer voltar para trás porque é uma fila sem fim;
- Caso se tenha a sorte de conseguir escolher o quer que seja, as filas para pagar são monstruosas e completamente lentas (normalmente devido à quantidade de produtos que cada comprador leva);
- Não bastava o interior das lojas estar apinhado, passear nas ruas ou dentro de centros comerciais torna-se uma tarefa ridícula porque dá a sensação de que toda a gente caminha no sentido oposto ao nosso;
- Para além de nos desviarmos das pessoas, temos igualmente de nos desviar da quantidade de sacos que estas carregam.

Vantagem:
- Geralmente não se encontram muitas pessoas para experimentar roupa, dado que a maioria não anda a comprar para si.

As minhas conclusões óbvias: quando se fala em crise, em diminuição do poder de compra, está-se a falar em pegar no dinheiro que antigamente servia para comprar uma prenda e utilizá-lo para comprar dez prendas, ou seja, na maioria das vezes, com o objectivo de comprar coisinhas mais baratas, multiplicam-se o número de sacos. Como eu nunca andei muito nisto de prendas de Natal, pode-se dizer que a minha crise económica, já dura há muito muito tempo...


Curiosidade: À meia-noite as lojas continuam apinhadas.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

"Qualquer psicólogo que se preze vai para o curso de Psicologia enganado"


Uma opinião como outra qualquer com o valor acrescido de quem andou no curso e conhece muita gente que passou pela mesma experiência.

quinta-feira, dezembro 08, 2005

Maus-tratos

Este pequeno post destina-se a descrever um dos ataques mais estúpidos que o meu ego sofreu. Foi a primeira e última vez (última porque entretanto não se proporcionou) que tentei oferecer uma prenda a um rapaz que tivesse uma razão de ser. Pensei nos aspectos da sua vida que eram importantes e onde ele mais problemas tinha e numa forma de os colmatar. Escusado será dizer que essa pessoa era muito importante para mim na altura. De seguida apresento um relato daquilo que foi dito por essa pessoa quando, efectivamente, lhe dei a prenda:

(Antes de ter aberto o embrulho por completo)

- Ah... Já tenho uma igual.

(Depois destas palavras, toca a atirar a prenda para o banco mais próximo)

Escusado será dizer que nunca mais lhe dei nada.

domingo, dezembro 04, 2005

Amizades online

Recentemente confrontada com uma afirmação relacionada com o à vontade presencial que partilho com um amigo essencialmente internético, resolvi, numa introspecção baldia, teorizar o que permite esta confiança com "caras" que ainda não conhecemos, ou que fisicamente conhecemos pouco, que nos leva a pensar que offline, onde dominam o olhar e as não-palavras, a segurança/confiança e à vontade serão os mesmos com que despejamos a nossa alma num teclado para depois a ver "imprimida" num écran e saber que um outro écran e outros olhos a irão ler.

Muito sinceramente não acredito em amizades online. Não acredito na realidade de conhecimentos com pessoas que nunca vimos. Simplesmente porque qualquer conhecimento que se faça sem um contacto físico/presencial é um conhecimento a reviver quando se está face a face. Por isso mesmo, acho que por mais intimidades que se transmitam num écran, numa internet, noutra internet, estas nunca serão suficientes para permitir um salto virtual à amizade física, um salto virtual à necessidade de criar um espaço físico de conhecimento comum. E acho igualmente que palavras mentais de "eu estou bem ao teu lado, aquilo que já partilhamos por palavras permite-me isso" não vão criar ou construir de um momento para o outro algo que se consegue com anos de convívio. O à vontade físico e mental para "conversar" com alguém que se encontra do outro lado da linha telefónica ou no extremo da nossa internet nunca deveria ser confundido com um à vontade presencial. Sentados numa cadeira, deitados na cama ou num sofá, no nosso ambiente, a ouvir a nossa música, sem as chatices de lugares públicos, saltamos necessidades como conversas sobre o tempo, olhares carregados de avaliações, comportamentos de desconforto, e ao mesmo tempo que travamos conhecimento com alguém escrevemos no blog, pagamos contas, fazemos encomendas, pesquisamos assuntos interessantes. São circunstâncias especiais e eu não acho que devam ser ignoradas.

Por todas estas razões, eu já não acredito na ilusão da internet ou da sua falsa segurança. Por todas estas razões eu não sobre nem sub valorizo uma boa conversa com um desconhecido ou a falta de palavras escritas com um conhecido e bom amigo. Por todas estas razões, eu acho que quaisquer que sejam os sentimentos que surjam numa conversa online, devem sempre ser analisados offline e não numa continuação virtual de palavras e emoções substituídas por smileys expressivos.



PS: Tenho plena consciência de que esta opinião é um resultado desagradável da soma de várias experiências passadas. Por causa disso não penso em alterá-la, pelo menos não tão cedo.
Acabei por não teorizar nada e dar apenas uma opinião completamente parcial. No fundo era mesmo isto que eu queria.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Sobre a psicologia: coisas que eu não fazia ideia

É o que dá por os pés dentro de uma biblioteca. Principalmente é o que dá por os pés fora de casa. Por causa disso posso agora aumentar o meu conhecimento da psicologia, ou pelo menos dos seus efeitos. Continuando uma linha de posts interrogativos sobre a área na qual me formei (o último continha a maravilhosa questão existencial da psicologia ser cultura ou lazer), apresento aqui uma pequena citação de um livro sobre gestão administrativa:

"Os psicólogos não são os únicos culpados de introduzir uma profusão de linguagem técnica no mundo dos negócios..."

Não continuo a frase porque obviamente a pertinência acaba aqui, até porque não fiquei a saber quem eram os outros "culpados".
Ora eu não sabia disto. Acho engraçado queixarem-se de profusão de linguagem técnica no mundo dos negócios, mais do que isso, atribuirem-lhe culpados. Todos os dias aprendo uma coisa nova. Há dias em que é mais do que uma. Hoje fiquei a saber que a psicologia, marota, anda a meter linguagem técnica onde ela não é chamada, no mundo dos negócios. Pode ser que ainda aprenda mais qualquer coisita hoje, o dia ainda não acabou.

"O último suspiro do mouro"

"Numa casa com paredes de papel higiénico, o conhecimento do estado de saúde do aparelho digestivo dos membros da família não representa pelo menos nenhum problema."

Salman Rushdie

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Vantagens e desvantagens de ter um namorado imaginário

De vez em quando, ao ver um qualquer filme na televisão, sou confrontada com uma infância comum e ordinária de qualquer criança em crescimento: a do amigo imaginário. Ora eu nunca partilhei desta festa da imaginação, pelos menos que me lembre. Aparentemente esqueceram-se de me convidar. No entanto, porque o tempo não volta para trás e porque nunca é tarde de mais para tentar, agora, aos 24 anos, parece-me uma boa idade para treinar isto de imaginar companhia.

Eu diria que as relações a que temos tendência de classificar como mais problemáticas são as relações amorosas. Então, aqui, porque não imaginar um companheiro? Tudo bem, existem contactos físicos que não se imaginam. Ora isto nem sempre é verdade, mas de certeza que se o problema fosse o contacto físico não existiriam problemas. A questão é o contacto emocional que somos capazes ou incapazes de "fabricar" com o parceiro que escolhemos ou que nos escolheu. Embora eu considere que o contacto emocional não vive sem o contacto físico, é certo e sabido que existem determinadas situações em que é possível imaginar ligações a nível psicológico quando a concretização física da pessoa não é possível (e isto diz absolutamente nada acerca da validade dessas ligações).

Bem, o que interessa aqui, é a possibilidade de criar um companheiro imaginário que nos preencha o vazio psicológico que um companheiro físico não consiga preencher. Será possível? É como a velha história do se acreditares com força suficiente, acontece. Eu não digo que não me vá acontecer a mim, até porque da maneira que as coisas andam sou capaz de chegar a acreditar que uma imaginação forte vence qualquer obstáculo. Olhem para os esquizofrénicos. Digam lá que aquilo não é uma imaginação fantástica. Tudo bem que depois pode e provavelmente dá problemas, mas também, o que é que não dá?

Afinal, o que pode fazer por nós um namorado imaginário que um real não possa?
Se estivermos a falar de pessoas reais, temos de ter em conta que a disponibilidade mental para lidar com os problemas dos outros nem sempre está presente. Pois bem, se o namorado for imaginário, é a nossa imaginação que o controla, controlando a sua disponibilidade a todos os níveis, controlando o seu tom de voz, as suas palavras, o seu grau de atenção. É óbvio que não pretendo afirmar que o que procuramos num companheiro é uma atenção constante, disponibilidade total e doçura sempre que estamos por perto. No fundo, a nossa eterna insatisfação leva-nos a rejeitar tudo o que se aproxime a uma constante perfeição daquilo que nos faz falta. Ao deixarmos o nosso inconsciente tomar conta do nosso namorado imaginário, estaremos, subtilmente a entregar a nossa vontade às coisas que mais nos fazem falta, mesmo aquelas que não estamos dispostos a admitir. Deste modo, seria de esperar que o nosso companheiro imaginário nos tratasse exactamente da maneira que estamos à espera, mesmo que essa maneira não fosse a vulgarmente concebida como perfeita.

No entanto, resta-nos um pequeno problema: o sexo. Sim, ele faz falta, a carícia faz falta. Como então resolver o problema da proximidade física de um parceiro que não é real? Na verdade, o que a nossa imaginação não pode fazer, o engate faz por nós. As breves aventuras sexuais ou apenas sensuais poderão facilmente preencher a solidão física se também aqui, a nossa imaginação der o seu contributo, tanto no aspecto físico como nas palavras ditas e ouvidas. Para além disso, é de referir, que esta necessidade (e por mais absurdo que isto pareça, é verdade) pode igualmente estar suprimida em casos de extrema privação emocional, onde o desgosto físico e sentimental excede em muito a nossa capacidade para sobrevivermos às constantes quedas amorosas em que somos capazes de nos envolver.

Posto isto, o namorado imaginário atingiu um ponto de perfeição que se depara apenas por um incontornável obstáculo: a mítica boleia. Por mais que seja possível imaginar um companheiro mental e emocional, um contacto físico (que poderá ser uma satisfação solitária) existe algo que sempre ficará inimaginável ou pelo menos imaginável num ponto intocável: o carro e as potenciais boleias que um verdadeiro namorado poderá providenciar. Por mais bonito que seja esta imaginação fértil, imaginar a presença de um carro e de alguém que o conduza é uma actividade demasiado física para a nossa mente.

Por isso, após ponderar as duas hipóteses, será apenas justo dizer que os dois tipos têm um momento/oportunidade certa para ocorrer. Não há que descartar hipóteses. Quando nunca se teve a oportunidade de usufruir de companhia imaginária, porque não experimentar numa altura em que a presença física de um ser emocional só causou mais estragos na nossa vida, mais estragos do que aqueles que somos capazes de produzir sozinhos.

Algumas notas
1 - O post refere-se constantemente a companheiro/namorado, no entanto é de acrescentar a vertente feminina nas palavras, aplicável a toda a extensão do post, com a excepção da boleia que não será tão evidente.
2 - Quem me dera ter uma imaginação tão forte que produzisse presenças físicas.
3 - Na maioria das vezes, aquilo que não faz um namorado, um amigo consegue fazer.
4 - O bom disto tudo é que quanto mais pensamos no que causa a nossa dor, menos dói, pelo menos mais lá para o fim.